O Bolero, obra musical criada pelo compositor Maurice Ravel, estreia em 22 de novembro de 1928 em Paris, na Ópera Garnier. Balé dedicado à bailarina Ida Rubinstein, seu imediato êxito e rápida difusão universal o converteram não somente na mais famosa obra do compositor, como também num dos expoentes da música do século 20.
Ravel pretendia que o balé fosse montado em área externa, com uma fábrica ao fundo, numa alusão à Carmen de Bizet, ópera que admirava. No entanto, a montagem situou a ação num obscuro café de Barcelona, iluminado apenas por uma lâmpada. A bailarina começa a dançar sobre uma grande mesa enquanto uma vintena de homens permanecem sentados jogando cartas.
[O compositor no ano de 1928]
Ida Rubinstein representava o papel da bailarina de flamenco, numa coreografia sensual que despertou escândalo. O crítico René Chalupt assim a descreveu: “Movimento orquestral inspirado numa dança espanhola, se caracteriza por um ritmo e um tempo invariáveis, com uma melodia obsessiva, em dó maior, repetida uma e outra vez sem nenhuma modificação, salvo efeitos orquestrais, num crescendo que, in extremis, termina com uma modulação em mi maior e uma coda estrondosa.”
Apesar de Ravel tê-lo considerado como um simples estudo de orquestração, o Bolero esconde grande originalidade e, em sua versão de concerto, chegou a ser uma das obras musicais mais interpretadas a ponto de permanecer, até 1993, em primeiro lugar na classificação mundial de direitos da Sociedade dos Autores, Compositores e Editores de Música (SACEM).
Em 1928, Ravel só compôs o Bolero, antes que uma estranha enfermidade o condenasse ao silêncio. Todavia, compôs no ano seguinte obras importantes como o Concerto para a mão esquerda (1929–30), para o pianista amputado Paul Wittgenstein, o Concerto em sol maior (1929–31) e as três canções de Dom Quixote e Dulcineia (1932–33).
A história do Bolero remonta a 1927. Ravel acabara de terminar a Sonata para violino e piano e firmara contrato para uma turnê nos Estados Unidos e no Canadá. Pouco antes de partir, a bailarina russa Rubinstein encomendou-lhe um “balé de caráter espanhol”, pois queria montar sua companhia “Les Ballets Ida Rubinstein”. Pretendia competir com o famoso coreógrafo Serguei Diaguilev.
Ravel passara curtas férias no verão de 1928 em sua cidade natal de Ciboure, no País Basco francês. Foi então que lhe sobreveio a ideia de somente utilizar um tema e um contra-tema repetidos, em que o único elemento de variação proviria dos efeitos de orquestração que sustentariam um imenso crescendo ao longo de toda a obra. Foi ao piano e tocou o tema com apenas um dedo.
Finalizou rapidamente a peça a qual deu o nome de Fandango. No entanto, para o ritmo de sua obra, o fandango lhe pareceu uma dança demasiado rápida e o substituiu por um bolero, outra dança tradicional andaluz que suas viagens à Espanha lhe permitiram conhecer.
Ravel aceitou, relutante, a montagem de Benois, porém solicitou a seu amigo Léon Leyritz, o escultor que esculpiu o busto de Ravel que adorna o vestíbulo da Ópera de Paris, que preparasse outro cenário. Essa produção viria à luz, mas já não seria em vida de Ravel.
Gravou-o pela primeira vez, em janeiro de 1930, com a orquestra dos “Concerts Lamoureux”. Os regentes, que viam na obra um terreno fértil e uma fonte fácil de glória, logo se ocuparam do Bolero. Alguns tentaram deixar sua marca. Enquanto Willem Mengelberg acelerava e ‘ralentava’ em excesso, o grande maestro italiano Arturo Toscanini, à frente da Filarmônica de Nova York, tomou a liberdade de interpretar com andamento duas vezes mais rápido que o prescrito, especialmente no final.
Ravel, presente entre o público, manteve nos bastidores uma breve discussão com o maestro. Os dois se reconciliaram mais adiante, mas já estava claro que o tempo do Bolero seria doravante uma “causa célebre”. Ravel em 1931 comentou: “Devo dizer que o Bolero raramente é regido como penso que deveria ser. Digo, o Bolero deve ser executado em tempo único do início ao fim, no estilo queixoso e monótono das melodias árabe-espanholas. [...] Os virtuoses são incorrigíveis, imersos em suas fantasias, como se os compositores não existissem.”
O Bolero foi logo interpretado em muitas transmissões radiofónicas. Finalmente, em 1934, o estúdio Paramount produziu um filme, protagonizado por Carole Lombard e George Raft, intitulado Bolero, em que a música desempenha importante papel. A fama da obra já não podia ser detida.
Fonte: http://operamundi.uol.com.br/conteudo/historia/32537/hoje+na+historia+1928+%96+bolero+de+maurice+ravel+e+tocado+pela+primeira+vez.shtml
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